quinta-feira, março 31, 2011

À rasca



Para começar, quero apenas dizer que tenho 27 anos, sou licenciado e felizmente tenho um emprego estavel na área em que me formei.

Muito se tem falado e escrito sobre o estado do país e a “suposta” geração à rasca. Tenho estado caladinho aqui para os meus lados, apenas intervenho pontualmente em alguns blogs, mas uma vez que começo a ficar farto resolvi finalmente rebentar de uma vez por todas e escrever o que sinto.

Existem muito críticos desta suposta geração, que gostam de dar asas ao seu direito de opinião rotulando os mesmos como calões. Meninos que vivem à custa dos pais. Ou então que não querem um trabalho, só um emprego na sua area, etc. 

Estas barbaridades começam a tirar-me do sério. Não porque estejam completamente erradas, porque existem de facto muitos destes casos. Mas porque tudo isto é uma gigantesca e aberrante generalização do que é a realidade. E eu pessoalmente sinto-me insultado por fazerem a colagem de tais casos a pessoas que de facto estão com genuínas dificuldades. Que as há, não por culpa própria nem por culpa desses meninos que tiveram a felicidade de nascer em berço de ouro.

Parem de tentar fazer disto um conflito geracional. Parem de se vangloriar que se mataram a trabalhar ou a estudar para terem o que têm. Porque de facto quem pensa aquilo que eu acima referi, são no fundo uns cagões gabarolas que gostam de implicitamente dizer que trabalham muito e que são muito inteligentes. De cada vez que dizem que os “jovens” não querem é trabalhar, estão na realidade é a afirmar: Eu sou muita bom e não tenho dificuldades porque estudei, ou porque fiz isto e aquilo e sacrifiquei-me e etc….


Pois muito bem, agora que já se esfolaram todos para ter uma vidinha melhor… Agora que já desperdiçaram mais de metade da vossa breve vida para conseguir ter umas condições mínimas e aceitáveis de subsistência, enquanto outros usufruem literalmente do vosso esforço e do vosso trabalho para enriquecer chorudas contas bancárias. Não se dêem ao trabalho de apoiar quem precisa. Afinal, vocês já estão assegurados? Para quê estarem a maçar-se. Os outros que percam também a vidinha a trabalhar… é vá lá, como é que havemos de qualificar isto? … “Uma espécie de vingança por eu ser um infeliz…”, ou uma “espécie de justiça social pelo facto de eu ter trabalhado tanto…”

Estes jovens tão falados, que de facto não sabem ainda o que é sofrer, que não sabem o que é a dureza da vida, fazem certamente com as suas manifestações, algo muito mais útil para a sociedade do que todos os velhos do Restelo que optaram por se deitar a sombra da sua glória, enquanto criticam e enterram quem de facto procura melhorar a situação em que todos nos encontramos.

Para alem de que convém saber (por vezes parece que há quem se esqueça), que nem sempre quem se esforça, ou quem passa a vida a trabalhar consegue uma vida condigna. E isto deveria ser algo garantido, mas que não é. Não será isto algo por que vale a pena lutar?

Parem de olhar só para o vosso umbigo. E se não querem de facto ajudar nesta luta que deveria ser de todos (mesmo dos que estão bem na vida e que lutaram para isso), pelo menos não atrapalhem, nem descredibilizem o esforço dos outros. Se já estão bem na vossa vidinha, se de facto acham que está tudo bem neste país, deixem-se estar aí sossegadinhos que ninguém vos chateia. Isto não é nem nunca foi contra vocês…
Related Posts with Thumbnails